A maçonaria masculina ganhou maior impulso a partir do século XIV, depois de 13/10/1307, quando os templários foram massacrados em Paris. A partir dessa data, os sobreviventes tiveram que passar para a clandestinidade, e, em consequência, muitos deles se refugiaram na maçonaria que, naquela época, era constituída de artesãos, construtores, artífices em metais. A chegada dos templários enriqueceu a maçonaria que, passou então a contar com homens de muito saber e de ação. Esse fato histórico se vê evidenciado nos entalhes da Capela Roslim, localizada a poucos quilômetros da cidade de Edimburgo, na Escócia. Um desses entalhes, localizado na parte inferior da janela frontal da capela, canto sudeste, fornece informações sobre o ritual de iniciação que nos dias de hoje é praticado pela maçonaria.
Os antigos Landmarks da Ordem, existentes até a atualidade são os responsáveis pela permanência única de homens na organização maçônica, excluindo as mulheres que, consideradas de natureza frágil, seriam incapazes de manejar uma espada para defender a Ordem.
Entretanto, a maçonaria masculina há muito tempo tem se mostrado incapaz de manter a unidade entre os maçons, tanto na Europa como no resto do mundo. E desde o início do século XVIII até os dias de hoje, essa desunião vem cada vez mais produzindo cisões entre as organizações maçônicas.
Com a fundação da Grande Loja da Inglaterra, por volta de 1717, nasceu a maçonaria especulativa, ocasião em que os maçons operativos se sentiram frustrados por terem que aceitar homens alheios a seu círculo profissional, que não conheciam os toques e os sinais de reconhecimento praticado por eles. A partir dessa data, começaram as divisões, surgindo na Inglaterra os maçons antigos e os modernos. Os antigos eram em sua maioria pertencentes às Lojas Maçônicas de York, que haviam sido fundadas no período operativo. Os modernos eram os novos maçons, os especulativos, cuja maioria era constituída por membros da Academia de Ciências da Inglaterra, da Aristocracia e de homens proeminentes da sociedade Londrina.
Mais tarde, em 1813, os antigos se uniram aos modernos, nascendo daí a Grande Loja Unida da Inglaterra(GLUI). Ainda na Europa, em 04/09/1929, com o intuito de se manter uma situação de controle, a GLUI emitiu seus dogmáticos 08 pontos, a partir dos quais uma loja maçônica poderia ser considerada REGULAR. Em função de um desses pontos, a GLUI discriminou o Grande Oriente da França (GOF), pelo fato de o mesmo não exigir dos candidatos à Iniciação que obrigatoriamente acreditassem em Deus. Assim sendo, nos dias de hoje a grande Loja Unida da Inglaterra não reconhece o GOF, ficando assim, dividida, a maçonaria na Europa.
Essas divisões se perpetuaram, e hoje, na França, temos o seguinte quadro: a Grande Loja Nacional da França (GLNF) não reconhece a Grande Loja da França (GLDF) e nem o Grande Oriente da França (GOF). O principal gerador destes conflitos é a GLUI. Com relação à GLDF, a GLUI se vale do princípio da Territorialidade, ou seja, alega que em um país somente pode haver uma Grande Loja, discriminando, desta forma, a Grande Loja da França.
Assim sendo, atualmente temos que conviver com as múltiplas divisões da maçonaria, não somente na Europa, mas também no resto do mundo. Esse estado de coisas chegou ao Brasil, de modo que, hoje temos a divisão como pano de fundo. Praticamente todos os Grandes Orientes estaduais da Confederação Maçônica do Brasil (COMAB) não são reconhecidos pela GLUI e nem pelas Grandes Lojas Estaduais Americanas. Contudo, felizmente, as Potências maçônicas do mundo não se nivelam exclusivamente pela Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI). As Grandes Lojas dos EUA reconhecem potências que não são reconhecidas pela GLUI. No Brasil, quase todas as Grandes Lojas Estaduais são reconhecidas pelas Grandes Lojas Estaduais Americanas.
É interessante observar algumas características regionais relativas a essa questão -- em Minas Gerais, até a algum tempo atrás, o GOBMG, GLMMG e o GOMG viviam em paz, em decorrência de um Tratado de Amizade celebrado entre estas três organizações maçônicas
Entretanto, em 30/04/14, o Grão Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil (GOB), enviou aos Grandes Orientes estaduais as Pranchas 110/2014 e 236/2014 - GGMG, nas quais cita as potências maçônicas que no Brasil e no mundo são consideradas regulares pelas Grandes Lojas Americanas e proíbe a visitação das Lojas filiadas às potências que não estão na referida lista. Em Minas Gerais, as Lojas filiadas ao Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG) passam então a ser consideradas irregulares pelo GOB. Essa prancha põe fim ao Tratado de Amizade entre o Grande Oriente do Brasil em MG (GOBMG) e o GOMG, e criou uma atmosfera de desunião entre as organizações maçônicas do estado.
Em semelhante situação, existem ainda no Brasil, dezenas de organizações maçônicas que não reconhecem e bem como não são reconhecidas pelas grandes e tradicionais organizações maçônicas anteriormente citadas – a Grande Loja Unida Sul Americana (GLUSA); o Grande Oriente Maçônico do Brasil (GOMB); a União Mineira de Lojas Maçônicas Independentes (UNILOJAS); a Maçonaria Symbolica Nacional Brasileira (MNSB) e dezenas de outras espalhadas pelo território nacional.
Por permanecer presa aos Landmarks, a maçonaria excluiu de seu meio as mulheres. Entretanto, com o intuito de minorar essa falha e de cativá-las, deu-lhes um papel secundário e criou as Lojas de Adoção. Tais Lojas, compostas somente por mulheres, funcionavam sob a responsabilidade e a orientação de uma Loja masculina. As Lojas de Adoção surgiram na França durante século XVIII, tendo sido criadas mais para atender a aristocracia. Elas se firmaram durante o império napoleônico, continuaram crescendo no século XIX, mas, deixaram de existir no início do século XX.
A Maçonaria francesa, com a sua tradição de respeito aos Direitos Humanos, procurou trazer as mulheres para as suas fileiras. E, finalmente conseguiu -- em 04/04/1893, em Paris, Maria Dearismes e George Martin, fundaram a primeira Loja Maçônica Mista. Dessa primeira Loja nasceu a Grand Loge Symbolique Écossaise "Le Droit Humain", mais tarde transformada no Supremo Conselho Internacional, dando origem à Ordem Maçônica Mista Internacional "Le Droit Humain", ficando assim estabelecida em definitivo a igualdade entre o homem e a mulher maçons.
Aquiecendo se à tendência de cisão, as mulheres maçons, colocaram em prática o seu espírito de independência e criaram na França, em 1959, a Grande Loja Feminina Francesa, que nada tem a ver com as Lojas de Adoção. A Maçonaria Feminina está, portanto, nos dias de hoje, estabelecida em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Na minha opinião, esse foi mais um movimento falho da maçonaria, desta vez, da maçonaria feminina, que, ao se segregar, criou mais uma divisão na maçonaria universal. Já é tempo de a Maçonaria abandonar a apologia da superioridade masculina e equiparar homens e mulheres, ou seja, de colocá-los no mesmo nível, honrando assim um de seus mais sagrados princípios: o da igualdade.
Uma esperança para acabar com os preconceitos que causam a nossa desunião é aprender com as organizações maçônicas mistas, constituídas de homens e mulheres. Chegou a hora de todos os maçons do Brasil se unirem; é hora de se reconhecerem as mulheres como maçons; é hora de se livrar desse preconceito absurdo: é hora de a maçonaria entrar definitivamente no século XXI.
Elias Mansur Neto
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